segunda-feira, 27 de julho de 2015

Plano de Aula "De que cor é?"

CONTEÚDOS: LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

OBJETIVOS:- INTERPRETAR O TEXTO
 - EXPRESSAR ATRAVÉS DE CORES OS SENTIMENTOS;
- PRODUZIR TEXTO;

DESENVOLVIMENTO

DE QUE COR É?
(Luciana de Almeida)

Abra os olhos ... olhe bem a sua volta...
Quantas cores você viu? Amarelo, alaranjado, verde, azul, anil...
Tudo nesse mundo tem cor! 
A gema do ovo da ema é amarela como o sol no céu.
A pena da cauda do pavão é da cor de cada momento: 
VERMELHA, quando está com raiva; 
AZUL, quando está contente; 
AMARELA, quando está cansada;
VIOLETA, quando está por um triz. 
MULTICOLORIDA, quando está feliz!

1)- Estudando o texto: 
a)- Título:
b)- Autora: 
c)- A autora diz que cada momento tem a sua cor. Por quê?

2)- De que cor você pintaria:
a)- a saudade?
b)- a dor?
c)- o amor?
d)- a tristeza? 
e)- a preguiça? 

- Expresse através de uma ilustração como se sente no dia de hoje, para isso utilize as cores que  represente cada um dos seus sentimentos, compartilhe com o colega e depois escreva como você se sente e o porque de estar sentindo-se assim:

RECURSOS: lápis, caderno, borracha, quadro, giz.

AVALIAÇÃO: Por meio da produção textual e da forma como poderão expressar seus sentimentos através das cores.

Lenda do Pirarucu

Segundo a lenda do Pirarucu, contada pelos índios, antes de ele ser um peixe, era um jovem índio guerreiro, valente, orgulhoso, vaidoso, injusto e que gostava de praticar maldades, ao contrario de seu pai que era um bom homem.
Um dia durante a ausência de seu pai que visitava algumas tribos vizinhas, Pirarucu aproveitou a ocasião para fazer de refém os índios da própria aldeia e executa-los sem motivo algum.
Foi então que Tupã, Deus dos deuses resolveu castiga-lo com uma forte tempestade que caiu dos céus sobre a floresta. Em seguida com sua arrogância Pirarucu começou a debochar de Tupã. Foi então que começaram a cair raios perto do índio que em seguida tentou fugir, mas não conseguiu, vencido pela força do vento caiu ao chão e um raio partiu uma árvore muito grande que caiu sobre sua cabeça, achatando-a totalmente. Ainda vivo o jovem guerreiro teve o corpo carregado facilmente pela enxurrada para as profundezas do rio, porém Tupã achou que a morte seria pouco para Pirarucu e não satisfeito resolveu castigar o jovem guerreiro transformando-o em um peixe avermelhado de grandes escama e de cabeça chata.
Pirarucu é um peixe da região amazônica que pode alcançar cerca de 2 m de comprimento. Sua carne é bastante utilizada em pratos típicos, o que faz com que o Pirarucu seja bastante conhecido na região.
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Retirado do site: http://www.lendasfolcloricas.com.br/lenda-pirarucu/

Lenda do Guaraná

Conta a lenda do Guaraná, que um casal de índios pertencente a tribo Maués, vivia junto por muitos anos sem ter filhos. Um dia eles pediram a Tupã para dar a eles uma criança para completar suas vidas. Tupã, sabendo que o casal era cheio de bondade, lhes atendeu o desejo dando a eles um lindo menino.
O tempo passou e o menino cresceu bonito, generoso e querido por todos na aldeia. No entanto, Jurupari, o deus da escuridão e do mal, sentia muita inveja do menino e decidiu matá-lo. Certo dia, o menino foi coletar frutos na floresta e Jurupari se aproveitou da ocasião para lançar sua vingança. Ele se transformou em uma serpente venenosa que atacou e matou o menino. A triste notícia se espalhou rapidamente. Neste momento, trovões ecoaram e fortes relâmpagos caíram pela aldeia.
A mãe, que chorava em desespero, entendeu que os trovões eram uma mensagem de Tupã, dizendo que deveriam plantar os olhos da criança e que deles uma nova planta cresceria dando saborosos frutos. Assim foi feito e os índios plantaram os olhinhos da criança. Neste lugar cresceu o guaraná, cujas sementes são negras rodeadas por uma película branca, muito semelhante a um olho humano.
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Retirado do site: http://www.lendasfolcloricas.com.br/lenda-guarana/

Lenda do Uirapuru

O uirapuru é um pássaro verde-oliva de cauda avermelhada. Seu gorjeio é tão melodioso que toda floresta emudece para ouví-lo cantar.
Conta a lenda que, numa tribo no sul do Brasil, havia um cacique chamado Arurau amado por duas índias e sem saber com qual delas iria se casar, decidiu realizar uma prova de pontaria.
A índia vencedora chamava-se Araúna e foi a escolhida, por isso a Oribici, índia derrotada, ficou muito triste e se escondeu na mata para chorar. Chorou tanto que no lugar onde suas lágrimas caíram, nasceu um riacho.
Tupã o deus dos índios, estranhando aquele riacho novo, veio ver o que estava acontecendo. Então encontrou Oribici chorando sem parar.
O deus perguntou a ela o que havia acontecido. Ela contou-lhe tudo e completou:
_Estou com saudade do meu amado, mas não quero que ele me veja chorando. Se o senhor me transformasse em passarinho, eu poderia vê-lo sem ser percebida.
Tupã fez lhe a vontade.
Vendo que o cacique estava feliz e amava sua esposa, Oribici voou para a norte do Brasil indo parar na floresta Amazônica e para consolá-la, Tupã deu-lhe um canto maravilhoso e ela vive a cantar para esquecer suas mágoas.

Lenda da Erva Mate

Esta lenda conta que, há muitos e muitos anos, uma grande tribo estava de partida. O lugar onde moravam não servia mais, pois a caça estava difícil e a terra já não produzia como antes. 
Todos estavam muito tristes, apesar das palavras animadoras do cacique e das previsões do pajé. 
Lentamente, em procissão, os índios foram deixando a antiga aldeia onde tinham vivido tantos anos. As ocas abandonadas e alguns pássaros que, percebendo o abandono, vieram pousar no terreiro, à procura de alguma sobra de comida, compunham a desolação do ambiente. Não havia mais ninguém. De repente, o couro que fechava a entrada de uma oca foi afastado.
Os pássaros, assustados, voaram para longe, e um velho índio apareceu. Tinha os cabelos completamente brancos e apoiava-se a um bordão. Atrás dele surgiu uma mocinha índia. O velho guerreiro não tivera forças para acompanhar a tribo em sua marcha. Sua filha mais nova, sem coragem de abandoná-lo, preferira renunciar à segurança da tribo. Para não assistir à partida de sua gente, haviam permanecido dentro da oca. O velho insistira com a filha para que fosse com os outros: 
- Vá, enquanto é tempo, Iari. Pouco me resta de vida e depois, o que será de você? O que fará neste lugar abandonado? Antes ficar sozinho do que angustiar-me com seu destino. 
- Não fale assim, pai. Sabe que eu não teria coragem de abandonar-lhe. O que faria o senhor sozinho? Morreria de fome! 
Os dois continuaram a viver na aldeia e dava pena ver o esforço do índio para ser útil à filha.
Lentamente, com o maior sacrifício, reunia um pouco de lenha, apanhava, apanhava alguma fruta.
Ela, então, não parava: plantava, colhia, cozinhava, procurava manter em ordem a oca e o terreiro, onde o mato, adivinhando a fraqueza da moça, parecia resolvido a retomar o que fora seu. Até as onças, que antes não se aproximavam, temendo a flecha dos guerreiros, andavam urrando cada vez mais perto. A noite era cheia de sobressaltos e o dia, vazio de esperanças. 
Os meses foram passando.Numa triste tarde de inverno, o velho estava um tanto afastado da aldeia, colhendo algumas frutas, quando viu mexer-se uma folhagem próxima. Pensando que fosse uma onça, ficou gelado. Para defender-se, não tinha mais forças; para fugir, não podia contar com as pernas. Completamente paralisado, esperou o pior.
Em vez da onça, porém, viu surgir um homem branco muito forte, de olhos da cor do céu, vestindo roupas coloridas, que aproximou-se do velho guerreiro e pediu:
- Venho de longe e há dias que ando sem parar. Estou cansado e queria repousar um pouco. Poderia arranjar-me uma rede e algo para comer? 
O velho lembrou-se que a comida era escassa, mas não pode recusar.
- Sim, respondeu. Venha comigo. E tomaram o caminho da aldeia.
Ao chegar, ele chamou Iari e apresentou-lhe o viajante:
- Este homem, minha filha, está mais cansando do que nós e também sente fome. Cuide para que nada lhe falte. 
Iari acendeu o fogo e preparou tudo o que havia de comer, embora soubesse que não seria fácil conseguir mais. O estranho comeu com apetite. O velho e sua filha cederam-lhe sua oca e foram dormir numa das outras, abandonadas. Iari levou sua rede, nela acomodou o pai e dormiu no chão, porque não havia outra rede e a de seu pai ficara com o viajante.
Logo cedo, o velho índio encontrou o homem branco cortando lenha. Pediu-lhe que parasse, pois era um hóspede, mas o homem respondeu que já estava bem descansado e gostaria de ajudar, também. 
Terminou de cortar a lenha e seguiu em direção à floresta. Horas depois, retornou com várias caças. O velho não sabia o que dizer.
- Vocês merecem muito mais! - exclamou o homem. Trataram-me com toda a hospitalidade, dando-me tudo o que possuíam!
Depois ele confessou que era um enviado de Tupã. O deus dos índios estava preocupado com a sorte dos dois.
- Pela bondade de vocês, disse ele, merecem receber tudo o que desejarem. 
O velho animou-se: 
- Posso pedir mesmo? 
- Claro! Diga o que deseja! 
- Queria ter um amigo que me fizesse companhia até que meus dias acabassem. Assim, Iari poderia alcançar nossa tribo e ser feliz. Fico triste em vê-la aqui sozinha, sem amigas, sem uma festa, só trabalhando. Se ao menos eu tivesse mais forças! Poderia ficar sozinho. Ela não quer deixar-me, porque sabe que eu não sobreviveria. 
- Vou arranjar-lhe um amigo, prometeu o mensageiro. Um amigo que lhe dará alegria e forças para o resto de seus dias. 
Mostro-lhe, então, uma erva estranha: 
- Esta é a erva-mate. Plante-a, deixe que ela cresça e faça-a multiplicar-se. Depois ferva suas folhas e beba o chá. Novamente as forças lhe voltarão e poderá trabalhar e caçar o quanto quiser. Sua filha, se desejar, poderá ir ao encontro da tribo. 
Iari foi chamada e disse que não, preferia ficar na companhia do pai. Não poderia ser feliz em sua tribo, se o deixasse só. 
O enviado de Tupã sorriu, emocionado: 
- Por ser tão boa filha, você merece uma recompensa. A partir de agora, você é Caá-Iari, a deusa protetora dos ervais. Cuidará para que o mate jamais deixe de existir e fará com que os outros o conheçam e bebam, para ficarem fortes e felizes. 
Em seguida, o homem partiu. 
Tinha dito a verdade: o velho guerreiro recuperou as forças perdidas e nunca mais passaram necessidade. 
Entretanto, Iari vivia preocupada com o pedido do estranho. Ele queria que ela tornasse o mate conhecido. Mas como? Estavam tão longe que ali não aparecia ninguém! Ela não sabia o que fazer.
Numa distante aldeia de índios, realizava-se uma grande festa. Todos estavam contentes porque tinham feito uma boa caçada e tão cedo não precisariam preocupar-se com alimento. Enquanto uns dançavam e cantavam, outros comiam e bebiam.
Depois de algumas horas de alegria, dois jovens índios, que tinham bebido mais do que deviam, começaram a discutir. Eram Piraúna e Jaguaretê. O primeiro usava um colar feito com dentes de cem inimigos que abatera nas guerras; o segundo era famoso por sua força e coragem. Eram os guerreiros mais fortes da tribo.
Quando alguns índios viram o que estava acontecendo, procuraram acalmar os dois jovens, pois sabiam que uma briga entre eles teria resultado funesto. Depois de muito esforço, levaram cada um para um lado e a festa continuou.
Mas os dois estavam mesmo decididos a terminar a discussão que haviam iniciado. Pouco a pouco, um foi chegando perto do outro e a briga recomeçou. Desta vez, apelaram para a força. Os índios mais corajosos fizeram de tudo para separá-los. Porém, quem podia com eles? Fortes como eram, cheios de ódio e com cauim a embotar-lhes o raciocínio, pareciam duas feras e não dois homens. 
De repente, Jaguaretê empunhou um tacape e deu um violento golpe na cabeça de Piraúna, matando-o. Interrompendo-se a festa e Jaguaretê foi amarrado ao poste das torturas. 
Pelas leis daquela tribo, os parentes do morto podiam executar o assassino. 
Trouxeram o pai de Piraúna, para que ordenasse a execução de Jaguaretê, mas ele não quis fazê-lo. Disse que Jaguaretê só era culpado de haver bebido demais, tendo dado, assim, oportunidade a Anhangá, o espírito mau, de dominá-lo, levando-o a matar o amigo. Ele não deveria ser morto, portanto. Apenas expulso da tribo. Teria de viver sozinho nas matas desconhecidas, onde poderia refletir com calma sobre o que fizera. 
A decisão do velho foi obedecida. Depois de desamarrarem o jovem guerreiro, deram-lhe permissão para que pegasse suas armas e ordenaram que partisse imediatamente. 
Jaguaretê obedeceu e seguiu para o exílio. Ia triste, cabisbaixo, pois o efeito da bebida estava passando e podia ver agora o mal que fizera. Seguiu seu caminho e embrenhou-se na mata. 
Depois que Jaguaretê sumiu na floresta, ninguém ouviu falar mais nele. Com o tempo, foi completamente esquecido.
Muitos anos depois, alguns índios daquela tribo, que nem tinham ouvido falar em Jaguaretê, saíram para caçar. Entraram pelo sertão, onde era fácil encontrar uma onça, aprofundando-se cada vez mais. No meio da floresta, encontraram uma cabana. Surpresos, aproximaram-se com cuidado. Nisto, um homem forte e sorridente apareceu. Embora tivesse os cabelos brancos, o corpo e o rosto eram os de um jovem.
Ele acolheu os índios com cordialidade e ofereceu-lhes uma bebida desconhecida. Era Jaguaretê, o índio expulso de sua tribo, e a bebida desconhecida era o mate.
Os índios quiseram saber por que ele vivia sozinho naquela cabana e que bebida era aquela.
Jaguaretê contou-lhes a sua história:
- Assim que me vi sozinho na floresta, não aguentava mais o cansaço e o remorso, joguei-me no chão e ali fiquei, pedindo a morte. O arrependimento e a saudade de minha gente me torturavam. Fiquei muito tempo caído no mesmo lugar. Pressenti, então, que alguém estava perto de mim. Levantei a cabeça e vi uma jovem de olhar bondoso. Ela fitou-me com compaixão e disse: 
- Tenho pena de você, porque não matou por querer e agora está arrependido do que fez. Para que possa suportar seu exílio, vou ensinar-lhe uma bebida que não enfraquece nem tira a razão como o álcool, mas fortalece o corpo e clareia a mente. Meu nome é Caá-Iari, a deusa protetora dos ervais. 
Mostrou-me uma estranha planta e esclareceu: 
- Esta é a erva-mate. Plante-a, deixe-a crescer e faça-a multiplicar-se. Depois, prepare uma infusão com suas folhas e beba o chá. Seu corpo será forte e sua mente será clara por muitos e muitos anos. 
Segurei, emocionado, a planta que a deusa me entregara. Ela me olhou, em silêncio. Depois, desaparecendo pouco a pouco, como se fosse fumaça, ordenou: 
- Não deixe de transmitir a quem encontrar, o que aprendeu sobre o mate! 
- Portanto, meus amigos, finalizou Jaguaretê, quero que levem alguns pés de erva-mate para sua tribo e nunca deixem de transmitir aos outros o que aprenderam. 
- Não vem conosco? - perguntou um índio. 
- Não, não vou, respondeu Jaguaretê, pensativamente. Agora é tarde. Todos os que eu conhecia na tribo já devem estar mortos e eu seria um estranho. É preciso que eu cumpra meu exílio. Além disso, estou habituado com este lugar, que me sinto parte dele. E não estou sozinho, tenho o mate para alegrar minhas horas de solidão. 
Os índios voltaram e contaram aos outros o tinham ouvido. O mate foi plantado e multiplicou-se. 
Outras tribos aprenderam o seu uso e ele é, até hoje, muito difundido no Sul.



Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data. Ilustrações de J. Lanzellotti

sábado, 25 de julho de 2015

Lenda da Gralha Azul

Pois foi à fazenda dos Pinheirinhos que veio ter um dia o Fidêncio Silva, homem de grandes negócios, com casa matriz em Curitiba e filial em Ponta Grossa. Havia muito já que não experimentava descanso daquela agitação comercial em que vivia e a necessidade de um repouso prolongado tornara-se-lhe cada vez mais patente.
Ora, Fidêncio Silva era parente afastado da esposa de José Fernandes. Assim, logo que pensou em descanso, lembrou-se dos Pinheirinhos, longe daquele bulício de transações e onde o clima não podia ser mais saudável. E não tardou que estivesse a sorver em largos haustos, com evidente contentamento, o ar puro e varrido da campanha guarapuavana.
José Fernandes recebeu-o fidalgamente, como costumava fazer para todos que traziam uma certa importância de responsabilidades. Pôs os Pinheirinhos à disposição do seu hóspede pelo tempo que desejasse: um, dois, três meses e mais se lhe aprouvesse. Ali teria plena liberdade; quando não quisesse sair nas ocasiões de rodeio, poderia ficar em casa, a uma sombra do pomar, folheando qualquer livro da sua biblioteca quase totalmente agrária, mas que possuía, também, alguma literatura. E passeios igualmente não faltariam: um dia voltearia um rincão; outro iria às terras de planta, levando espingarda para espantar algum tateto; hoje faria uma caçada de anta mais para o sertão ou sairia a passarinhar pelos capões; amanhã correria a vizinhança, ouvindo prosa de caboclos; e até pescaria, se quisesse, poderia fazer no Picuiry, três léguas sertão adentro. Dessa maneira não havia como não corressem agradabilíssimos os trinta dias que Fidêncio Silva pretendia passar nos Pinheirinhos. E assim foi.
Um domingo depois do almoço, saiu à caça com o fazendeiro. Bem municiados, espingardas suspensas pelas bandoleiras ao ombro, entranharam-se os dois por extenso e tapado capão, “querência certa de muito veado, cutia e quati” - afirmava o José Fernandes.
Mas a sua asserção foi logo posta em cheque pela evidência dos fatos: os caçadores não viam um só animalzinho que merecesse chumbo grosso, embora já tivessem andado muito. Passaram então a sondar a ramagem, na esperança de divisar algum pássaro de saborosa carnadura. Em certo momento Fidêncio Silva parou e fez um sinal de silêncio ao companheiro. Depois, engatilhou, apressado, a arma e firmou pontaria, visando a fronde de retorcida guabirobeira. O fazendeiro procurou a caça, erguendo o olhar para a direção indicada pelo cano da espingarda. Súbito, um tremor sacudiu-lhe o corpo, e, de um pincho, esteve ele ao lado de Fidêncio Silva. Mas já era tarde: o rebôo do tiro perdia-se molemente pelas quebradas da mata, soturno, a evocar tristeza naquela quietude frouxa de um mormaço estonteante. A expressão condoída da fisionomia do José Fernandes durou pouco e de todo desapareceu ao ruflar das asas ligeiras esgueirando-se assustadiças por entre as tramadas franças. O atirador errara o alvo e, boquiaberto, todo interrogação, estacava os olhos no fazendeiro, que, ainda com a mão no cano da arma, que pretendera desviar antes do tiro partir, desafogava um longo suspiro de satisfação.
- Meus parabéns!, foram as primeiras palavras de José Fernandes, entre irônicas e zombeteiras.
- Parabéns!?, exclamou, ainda mais intrigado, o Fidêncio Silva.
- Então não merece cumprimentos o caçador que erra tiro em gralha azul? Renovo-os: toque nestes ossos!
E estendeu a destra.
- Quero compreender as suas palavras, mas creia, não posso atinar com o porquê de seu
arrebatamento de há pouco. Não matar com carga de chumbo um pássaro do tamanho dessa gralha, concordo que seja péssimo atirador; porém...
- Não. Não o censurei por errar. Muito pelo contrário: apresentei-lhe os meus sinceros parabéns.
Confundido, meio envergonhado, o Fidêncio Silva confessou:
- O amigo tem, então, duas coisas para explicar-me.
- Uma só, uma só. Emendou logo o fazendeiro. Há coerência entre as minhas palavras e a anterior atitude. Eu lhe conto tudo. Sente-se aí nesse tronco caído e escute-me.
O negociante obedeceu maquinalmente. Depois tirou de um lenço e pôs-se a enxugar o suor que lhe escorria pelo rosto, enquanto que, largando o corpo preguiçosamente sobre a trançada grama, José Fernandes foi falando assim:
- Era no inverno, quinze anos atrás. Havia muita seca e o gado caía de magro. Certa tarde montei o cavalo e saí a costear banhados e percorrer sangas, na esperança de salvar alguma criação que porventura se atolasse ao saciar a sede. Levava comigo uma velha espingarda de ouvido, que sempre me acompanhava, porque naquele tempo não poupava graxaim que encontrasse pelo campo, a negociar leitões e carneirinhos. Pois bem, regressava para casa., vagaroso, o pensamento nos grandes prejuízos que a seca estava ocasionando, quando vi um bando de gralhas azuis descer à beira de um capão, entre numeroso grupo de pinheirinhos. Para afugentar, ainda por pouco, a minha tristeza, acrescida pelo fato de ter naquela volteada encontrado mais duas reses estraçalhadas pelos corvos, resolvi dar caça àqueles animaizinhos. Aproximei-me cauteloso, apeando a respeitosa distância. Não muito longe, deti-me à sombra de um pinheirinho e contemplei, por instantes, o bando. Eram poucas as gralhas, e notei que revolviam o solo com o bico. Fazer pontaria e puxar gatilho foi obra de um momento. Mas, ai! Que horrível o segundo que se lhe seguiu: a espoleta estraçalhou-se e vários estilhaços, de mistura com resíduos da pólvora, vieram dar em cheio em meu rosto. Tonteei, bambearam-se-me as pernas e caí sobre a macega.
Quanto tempo estive desacordado, não lhe sei dizer. Antes, porém, de recuperar os sentidos, quando o sol já se encobria por trás da mata, um pesadelo fabuloso, qual uma história de fadas, gravou-se-me na memória. Revi-me de arma em punho, pronto para fazer fogo. Quando o fiz, iluminou-se o alvo e, aberta as asas brilhantes, o peito a sangrar, veio ele de manso, se achegando a mim. Os pés franzinos evitavam os sapés esparsos pelo chão e o andar esbelto tinha qualquer coisa de divino. Dardejante o seu olhar, estremeci ante aquela figura de ave e deixei cair a arma. Estático já, estarreci ao ouvir os sonoros e compreensíveis sons que aquele delicado bico soltava naturalmente. Dizia a gralha: “És um assassino! Tuas leis não te proíbem matar um homem? E quem faz mais do que um homem não vale pelo menos tanto quanto ele? Eu, como humilde avezinha, entoando a minha tagarelice selvagem como o marinheiro entoa o seu canto de animação na véspera de praticar seus feitos, faço elevar-se toda essa floresta de pinheiros; bordo a beira das
matas com o verdor dessas viçosas árvores de ereção perfeita; multiplico, à medida de minhas forças, o madeiro providencial que te serve de teto, que te dá o verde das invernadas, que te engorda o porco, que te locomove dando o nó de pinho para substituir o carvão-de-pedra nas vias férreas. E ignoras como eu opero!... Vem. Acompanha-me ao local onde me interrompeste o trabalho, para aprenderes o meu doce mister. Vês? Ali está a cova que eu fazia e, além, o pinhão já sem cabeça, que eu devia nela depositar com a extremidade mais fina para cima. Tiro-lhe a cabeça porque ela apodrece ao contato da terra e arrasta à podridão o fruto todo, e planto-o de bico para cima a fim de favorecer o broto. Vai. Não sejas mais assassino. Esforça-te, antes, por compartilhar comigo nesta suave labuta.” A gralha desapareceu e eu voltei à razão.
Levantei-me a custo e fui ter ao local escavado pelas aves, uma das quais jazia com o peito
manchado de sangue, ao lado de um pinhão já sem cabeça. Admirado, verifiquei a certeza da visão: mais adiante cavouquei com as mãos a terra revolvida de fresco e descobri um pinhão com a ponta para cima e sem cabeça.
O José Fernandes fez uma pausa e depois concluiu, mal encobrindo a sua alegria:
- Aí está, caro Fidêncio, como vim a ser um plantador de pinheiros. Quero valer mais que um homem: quero valer uma gralha azul!


Lendas Brasileiras / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2000
Ilustrações de J. Lanzellotti